Você
estava naquela festa, sentindo-se totalmente deslocada, com um copo de whisky
na mão, tentando lembrar-se do que a havia feito ir àquele lugar desprezível.
Claro, sua amiga – que agora estava dançando – fez questão de que você fosse, e
você, como não sabe dizer não, acabou cedendo. Queria ir embora; levantou, mas,
quando ia sair, uma mão quente pegou seu braço e te obrigou a sentar novamente.
Ele
apresentou-se, depois puxou assunto. E o que tinha tudo para ser uma noite
péssima, tornou-se agradável e até divertida. As horas passaram-se depressa, e
quando você ia embora, ele pediu seu número do celular. Você passou.
Ele te
ligou no dia seguinte, e no outro, e no outro. Cada vez mais interessado na sua
vida, nos seus gostos, nas suas manias, na sua personalidade. Ele te fez rir
quando você estava triste, e falou com você até conseguir dormir nos dias de
insônia. Ele te ligou às duas da manhã para te contar sobre a noite super
estranha que ele havia tido e a falta que você fazia.
Então um
dia ele te convidou para sair, e seu coração acelerou. Como assim? Da onde
havia saído aquela reação? Porque suas mãos tremiam? Porque você estava roendo
as unhas? É, tarde demais. Você estava apaixonada. Não sabia como nem quando
havia acontecido isso, mas não sentia vontade de parar. Entregou-se.
E então,
quando você estava completamente dependente daquele sentimento, ele sumiu. As
ligações não existiam mais; as conversas tornaram-se escassas; os encontros,
raros. Você havia sido deixada sem aviso prévio.
Choros descontrolados,
insônia, culpa, medo, solidão, nostalgia. Você não sentia mais vontade de fazer
nada, queria apenas ele. Até lembrar-se das brigas se tornou algo agradável.
Maquiagem pra que? Quem precisa estar bonita? Você saía e todos à sua volta
pareciam ser ele. Mas não eram, aliás, ele não estava em lugar algum. Porque ele
não voltaria.
E então,
num dia quente de verão, alguns meses depois, você acordou e sentiu vontade de
viver. Maquiou-se e até gostou do que o espelho refletia. Ligou para algumas
amigas e saiu, conseguiu divertir-se. Depois, estudou. Valia tudo para não ter
tempo de pensar nele. Era você aprendendo a lidar com o buraco que ele havia
deixado.
Com o
tempo, você não precisava mais inventar coisas pra fazer para ocupar sua mente,
porque ele deixou de habitar seus pensamentos naturalmente, e agora, lembrar-se
dele te fazia sorrir, e não chorar. Você passou a ter marcas aonde antes haviam
feridas. Você começou a se apaixonar por você mesma, e a se preocupar com sua
própria felicidade antes de qualquer coisa.
E num
dia, desses que você acorda de bom humor, ele te ligou. Quis conversar. Quis te
ver. E você percebeu que ele havia lhe proporcionado o amor mais intenso, e
também a pior dor. Vocês não haviam colocado um ponto final, e talvez fosse por
isso que você quis dizer que sim, ia se encontrar com ele. Mas não disse. Você
ignorou seu coração – que queria manifestar-se – e negou. “Não, não vou
encontrar-me com você, porque você não pensou duas vezes ao me deixar, e eu te
amava. Você sabe o que é isso? Ah, claro que não sabe. Você não ama nem você
mesmo. Esqueça, procure outra garota para iludir. Com meu coração você não
brinca mais.” E desligou.
Dizem que
o primeiro amor a gente nunca esquece, e você nunca ia esquecê-lo. Ele ia
permanecer com você pelo resto de sua vida, e não havia solução. Seria apenas
você com você mesma, sempre. Independente de quem estaria ao seu lado
futuramente. Porque agora você não depositava mais sua felicidade em outra
pessoa. Você mesma era capaz de completar-se. Às vezes vale a pena enfrentar
uma tempestade, se depois vier o arco-íris.