segunda-feira, 4 de julho de 2011

O tipo de saudade que nunca passa



Era como se eu fosse um passarinho aprendendo a alçar vôo, quando tudo que ele mais quer é manter-se no ar, sem cair. Pode ser estranha esta comparação, mas foi assim que me senti. Precisava chegar até a mesa, onde estava meu objetivo, mas não conseguia mover-me. Minha cabeça girava e meus pés estavam pesados demais para serem tirados do chão. Sabia que não era certo o que estava por fazer, mas eu desejava aquilo mais que qualquer outra coisa.
Cambaleando, cheguei à mesa, e, pegando o que estava sobre ela, tentei colocar um pouco em meu copo, mas, achando aquela tarefa difícil demais para o momento, desisti. Agarrei-me ao litro e Whisky e cambaleei até a janela mais próxima.
Olhei as estrelas e o modo como elas estão posicionadas no céu. Nunca consegui ver com clareza os signos do zodíaco, nem acreditei muito em astrologia, mas sabia, de alguma forma, que não estava sozinha. Alguém, a quilômetros de distância, poderia estar contemplando o mesmo céu, e procurando os mesmos desenhos. Alguém que eu não conhecia poderia estar, mesmo que indiretamente, se relacionando comigo. Talvez compartilhássemos mais que as estrelas, mais que a lua, mais que o céu. Talvez, estivéssemos compartilhando também a mesma dor.
Mas eu não ligava, porque, aquela noite era noite de lua cheia. E eu não precisava mais me sentir sozinha. Lágrimas começaram a cair por meu rosto agora frio e pálido, trazendo à tona lembranças que eu venho tentando desesperadamente esquecer.
Conseguia lembrar-me com clareza os traços perfeitos de seu rosto, os olhos profundos e intensos, o seu toque macio, e até seus lábios sob os meus. Mas, como num choque de realidade, percebi que não importava o quanto eu quisesse, ele não seria trazido de volta.
            Não deitaríamos mais sob as estrelas nem contemplaríamos a lua. Ele não iria mais buscar-me na escola, nem iríamos juntos tomar sorvete nas tardes entediantes de domingo, eu não veria mais seus olhos fitando-me como quem procura alguma coisa. Não sentiria seu toque nem seus beijos outra vez. Não ganharia um abraço apertado toda vez que eu chorasse, nem gastaria minhas palavras tentando encontrar um modo de dizer para ele o quanto o amo. Isso porque ele não está mais aqui. Isso porque mortos não sentem saudade, nem prazer, nem tampouco podem nos abraçar nos momentos difíceis. Mortos não nos levam para tomar sorvete, nem contemplam estrelas.
            Quando a única pessoa que você realmente amou, lhe deixa, você agarra qualquer lembrança que o possa trazer de volta, para mim, era a lua. Enquanto ela aparecesse, eu sabia que não importava o quanto estivéssemos separados, seria como se ele ainda estivesse ao meu lado. Seria como se nada tivesse mudado.         

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