Sabe quando você acorda com
um peso absurdo sobre você? Quando é tão pesado, que parece que o mundo desabou
enquanto você dormia? E esse mundo desabado impede que você abra os olhos e
tenha vontade de encarar este novo dia? Que você sente um aperto no coração,
como se alguma mão imaginária o estivesse comprimindo? E você tenta se livrar
disto, mas é muito mais forte que você. Até que você encontra forças, não sabe
aonde, para abrir os olhos. E vê que faz sol. Mas não é um sol comum, é um sol
que entra em cada poro do seu corpo, inclusive em sua alma, e você consegue levantar,
mas o peso ainda está aí, não se engane.
Então. É exatamente por isso
que vim parar aqui. Em cima desta montanha, observando uma pequena cachoeira,
que faz contraste com o azul do céu e com o verde das árvores. Caminhei até
aqui com a convicção de que este peso diminuiria, e se tivesse sorte, até sumiria.
Olho para o horizonte, e me
pergunto, que segredos este mundo - tão grande e tão pequeno – esconde. Olho
para os pássaros, e desejo ser livre como eles. Poder voar, e observar tudo em
silêncio. A calmaria das águas, a sensação do vento batendo forte contra o
rosto, não sentir o chão sob meus pés, e mesmo assim, não sentir medo. Apenas
paz. Uma paz absurda. Como deve ser?
Então, olho para a cachoeira.
Sua água agitada, como se quisesse dizer alguma coisa. Escuto o barulho, e
sinto a leveza e a paz daquele pássaro. Viajo para meu passado, lembrando das
pessoas que marcaram minha vida, e faço uma retrospectiva. Depois, viajo ao
futuro, vejo meus sonhos realizados. Estou voando. Voando para dentro de mim
mesma.
Sinto a brisa leve bater em meu
rosto, e pela primeira vez, estou sentindo de verdade. Não estou em meio a uma
cidade grande, correndo apressada para não perder o ônibus, com o vento
bagunçando meu cabelo. Não. Aquela brisa estava me mostrando que somos
sensíveis e frágeis. Que perdemos muito tempo da nossa vida tentando sentir tudo,
e não sentindo nada. E aprendo que não há nada melhor do que sentar no alto de
uma montanha e observar a natureza. Entrar em contato com ela. Sentir meus pés
na grama molhada, a brisa acariciando meu rosto e escutar o barulho das águas.
E sentir-me leve.
Você lembra-se daquele peso? Ele
sumiu. Porque eu aprendi a suavizá-lo.